Os robôs escrevem livros ou são meros mecanismos de distribuição?

Em seu artigo, publicado na revista MIT Tecnology Review, o editor-chefe da revista Jason Potin compara os escritores e escritoras de livros com criaturas solitárias. Essa comparação, é feita com o intuito de exacerbar a influência que as tecnologias dos robôs, que são as ferramentas de trabalho para esses (as) escritores (as), geram nas obras literárias. E dessa forma, Potin deixa claro que são as tecnologias de escrita, como os programas em obra será digitada e a máquina fotocopiadora, que inspiram inovações em estilo e formas literárias, não as novas mídias.

Para se compreender melhor a lógica literária adquirida pelos autores de livros, o editor-chefe da revista expõe o início do curto romance de Nicholson Baker, “The Mezzanine” (1988), no qual toda ação se passa durante um passeio de escada rolante na hora do almoço, o narrador descreve a compra de uma pequena caixa de leite e biscoito, e então faz uma pausa para considerar, em uma nota de rodapé do tamanho de uma página inteira, o desconfortável canudo ,projetado mais leve do que a água, que flutuava ao ser colocado na caixinha de leite.

A intenção do autor, de simplesmente pausar sua história para expressar sua indignação, vem da forma artística da literatura, já existente, de provocar estranheza no leitor ao recriar episódios da realidade, mas o que faz esse exemplo ser marcante para era dos robôs na escrita é o fato do software utilizado por Baker que o incentivou a dar essa expansividade ao rodapé da página. Ele diz que escreveu "'The Mezzanine" em um dos primeiros computadores portáteis chamado Kaypro, "uma máquina realmente adorável" com "duas unidades de disquete" que “parecia uma pequena peça de equipamento médico. ” Ele sempre amou notas de rodapé; o programa de processamento de texto do Kaypro facilitou sua inserção e formatação. Uma máquina de escrever teria colocado limites naturais no comprimento de uma nota de rodapé.

Em uma época onde novas mídias estão se proliferando, é tentador imaginar que autores, pensando em qual será a aparência de sua escrita em dispositivos como leitores de livros digitais, tablets ou smartphones, consciente ou inconscientemente adaptem sua prosa às exigências das plataformas de publicação. Mas não é isso o que realmente acontece. É infrutífero procurar exemplos de histórias que tenham adaptado seu estilo ou forma de modo inteligente a seus destinos digitais.

 Nos leitores de livros digitais, as histórias têm a mesma aparência das histórias de sempre. Mesmo a The Atavist, um startup no Brooklyn fundada para publicar jornalismo multimídia de formato longo para tablets, faz pouco mais do que adicionar elementos como mapas interativos, vídeos ou fotografias a histórias convencionais. Mas tais elementos são acréscimos dos editores, os autores do The Atavist não foram movidos, como Baker, pelas possibilidades criativas de uma nova tecnologia. Os escritores estão entusiasmados com a experimentação, não por causa das mídias em que seus trabalhos são publicados, mas, pelo contrário, pelas tecnologias que usam para elaborarem eles.

Um exemplo recente de como as ferramentas de autoria podem sugerir novos estilos de escrita pode ser encontrado em A Visita Cruel do Tempo, Jennifer Egan, que ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção em 2011. O romance, uma coleção de 13 contos interconectados, descreve as depredações do tempo (o esquadrão idiota do título original, porque "o tempo é um idiota") sobre um elenco de personagens que se conheceram na cena punk de São Francisco no final dos anos 1970. O Capítulo 12, "Grandes Pausas do Rock’n’Roll", foi escrito na forma de uma série de slides do Microsoft PowerPoint (completo com itens, diagramas de Venn e outros infográficos) e apresentado como criação de Alison, a filha de 12 anos de um dos protagonistas. Ally recorre ao PowerPoint porque é seu idioma nativo, mas Egan obviamente adorou superar as restrições artificiais do formato para contar a história simples do relacionamento de uma garota com seu irmão autista com uma obsessão patética por pausas musicais (a autora postou os slides de Ally com a música que os acompanhava em seu site).

A partir dessa perspectiva, de que, indiretamente, os robôs escrevem e modificam essa arte, instiga-se mais ainda a dúvida: mas os robôs poderiam escrever, diretamente, livros? E a resposta para essa pergunta é, sim. É o que promete a publicação do primeiro livro preparado inteiramente por uma máquina. A obra é fruto de uma parceria entre a editora acadêmica Springer Nature e um grupo de pesquisadores da Universidade Goethe, na Alemanha. E o editor ali é o algoritmo Beta Writer, que escrutinou milhares de páginas que continham as mais recentes pesquisas sobre baterias de íons de lítio as que armazenam a energia que alimenta seu smartphone e notebook.

 O resultado foi a elaboração de uma apostila técnica com cerca de 250 páginas que facilita a vida de quem quer se atualizar sobre essa tecnologia. Toda a pesquisa na área foi compilada de maneira organizada pelo robô, dividida em capítulos temáticos dotados de conteúdos que são uma mão na roda para O pesquisador. Cada artigo foi introduzido por uma breve descrição. Citações dos textos originais com hiperlinks para os trabalhos na integra passam uma noção das pesquisas e permitem que os interessados se aprofundem. Para finalizar, o bendito Beta e sumários e referências Writer ainda incluiu sem ajuda humana.  Assim, Egan e Baker escreveram em épocas em que as novas mídias estavam por toda parte, mas o que os cientistas da computação chamam de "mudança de plataforma" não os animava. As tecnologias de escrita e o algoritmo Beta Writer, por exemplo, os animariam muito mais. O motivo disso não deve ser um mistério. A explicação é que os escritores literários são as criaturas solitárias, antes citadas, seus dias são passados sozinhos: com teclados e canetas sob os dedos, seja rabiscando em um rascunho ou programando algoritmos, e com uma máquina fotocopiadora zumbindo no final do corredor de uma universidade. Essas coisas são reais, e o que se pode fazer com elas é emocionante, enquanto sites, leitores de livros digitais e até livros parecem abstrações, meros mecanismos de distribuição em meio a tecnologias, que hoje, já escrevem livros.

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